Património

 

Moinhos e Azenhas


No aro territorial de Apúlia já existiam, pelo menos desde o século XVIII (1750), uma série de moinhos bem referenciados na toponímia local. Aparecem-nos citações ao “Caminho dos Moinhos”, ao “Moinho do Facho”, ao “Campo do Moinho” e ainda ao “Moinho do Silvestre”. Também nos registos dos foros, e aquando da demarcação de terras, citam-se “tomadias com pinhal e moinho”.
Nos fieiros que marginam a praia entre Areia e Pedrinhas existe um conjunto interessante de quatro moinhos de vento. Na parte sul, a seguir à praia de Couve, existia um outro conjunto de cinco. Eram, sem dúvida, um sinal de uma forte indústria de moagem.
Actualmente os que se erguem em Areia foram transformados em habitações de veraneio, mantendo, no entanto, a sua estrutura exterior. Dos moinhos da parte sul, restam unicamente alguns vestígios a nível dos alicerces ou então a própria memória toponímica.
Eram quase todos construídos de xisto, possuindo as ombreiras, lintéis, soleiras das portas e das janelas em pedra. Possuem paredes circundantes com a forma cónica. O telhado, também ele cónico, era móvel, já que girava sobre uma calha cavada na cinta superior do corpo do moinho, por forma a apanhar a direcção dos ventos. As portas e janelas eram viradas a nascente. Estes moinhos eram constituídos por rés-do-chão e andar.
Pela documentação estudada, podemos identificar a existência dos seguintes moinhos e azenhas:
  • No lugar de Areia existiam a funcionar 7 moinhos de vento e uma azenha hidráulica.
  • No lugar de Criaz, 2 moinhos de vento e 2 azenhas hidráulicas. Uma delas, era de Rodízio, situava-se num pequeno percurso de água que vem da Lagoa Negra, mesmo perto da Estrada Nacional 13. Possuía uma construção rectangular, construída em xisto e não argamassada, e a sua porta estava voltada para um antigo caminho. Quando estava em actividade tinha duas mós de moer, movidas através de um rodízio. Neste mesmo lugar existe ainda um moinho de vento, a sul da Estação Rádio Naval, visível da Estrada Nacional 13. Já não possui velame. É de planta circular com tendência cónica. O telhado girava, consoante a direcção do vento, sobre uma calha, com a ajuda de um “rabo” colocado no próprio telhado. Possui uma porta e uma janela. A sua parede exterior está argamassada e supomos que quer as ombreiras da porta, quer da janela são, em granito.


Cruzeiro Paroquial


      Os cruzeiros são a representação simbólica da primitiva cruz dos cristãos, símbolos da crença do povo e erguem-se estrategicamente, como “padrões viários apontados à Fé dos viandantes”. Para além disso, com o levantar de um cruzeiro pretendia-se, e pretende-se ainda, sagrar o local escolhido, podendo ainda simbolizar zonas onde grassaram epidemias, onde se deram acontecimentos históricos ou mesmo mortes violentas. São, acima de tudo, importantes padrões paroquiais.
      O cruzeiro paroquial de Apúlia foi mandado construir por Manuel Francisco Igreja, um grande benemérito das obras paroquiais, em 13 de Fevereiro de 1955.

Igreja Matriz


  
Apúlia possuía, não temos dúvidas, um templo, mesmo que modesto, de traçado romano que acompanhou a própria fundação desta paróquia desde os tempos mediévicos.
      Segundo a tradição a primeira Igreja desta freguesia, aí pelos séculos XII ou XIII, situar-se-ia na Agra dos Mouros, tendo ficado submersa pelas areias restando hoje, unicamente o Cruzeiro (Cruzeiro da Agra dos Mouros).
      Em 1610, na altura de um Crisma, o seu estado era muito mau mas essa ruína tornou-se mais acentuada aí pelos anos de 1680.
      Perante esse estado físico do seu templo, os Apulienses resolveram edificar uma outra aí por 1694, vemos alguns fregueses preocupados em dotar a sua Igreja com sacrário e Confraria do Santíssimo Sacramento. Para isso, através de Escritura Pública, comprometeram-se a doar bens pessoais para sustento desse Sacrário. É por essa altura, 1683, que o Pároco de Apúlia, o então Reitor Francisco Leite, deixa de assinar como Reitor e toma a categoria de Prior.
      Faz parte do património desta Igreja Matriz uma imponente custódia de prata dourada, com incrustações de pedras finas, estilo renascença, que, na altura das invasões francesas (1809), fora escondida, dentro de um tanque, por forma a escapar ao saque que o exército francês fez às nossas igrejas e confrarias.
      Em 1845 esta Igreja estava de novo arruinada, embora o Santíssimo estivesse num Sacrário decente e possuísse os paramentos necessários.
      Por meados do século XIX o concelho de Esposende sentia uma grande vaga de assaltos nomeadamente às Igrejas, no intuito de roubarem as esmolas e os objectos de culto, de maior valor.
      Apúlia não foge a esta onda de assaltos, e na noite de 16 para 17 de Outubro de 1849 os ladrões abriram o templo, através de uma chave falsa e entraram pela sacristia da Confraria do Santíssimo Sacramento. Arrombaram os armários, as caixas e as gavetas de toda a Igreja. Abriram o Sacrário e levaram a chave dele que era feita de prata.
      Na denuncia feita à Câmara Municipal dizia-se que “... levaram um pequeno Vaso, que era usado para levar o sagrado viático aos enfermos, avaliado em seis contos de reis, levaram ainda uma coroa de prata de Nossa Senhora do Rosário, dois sírios, a almotolia do azeite e o vaso do Sacrário, que era de pau”. Curiosamente a almotolia apareceu no dia seguinte num campo de milho próximo da Igreja. Diz-se ainda na referida queixa de que “... a Igreja possuía alfaias muito ricas mas estavam guardadas em local seguro, fora da Igreja”.
      Em 1936, estando, de novo a Igreja em estado degradado e sendo pequena, resolveram edificar uma nova, que foi sagrada em 18 de Agosto de 1945 pelo Sr. Arcebispo de Braga D. António Bento Martins Júnior.

Capela da Senhora do Amparo


     
A Senhora do Amparo é uma invocação muito antiga no povo Português. É uma das principais invocações de Nossa Senhora na Arquidiocese de Braga havendo 35 altares onde se venera o seu culto e cerca de 19 capelas a Ela dedicadas.
      No caso de Apúlia esta associa-se ao culto da água, andando intimamente ligada à lenda da Fonte da Senhora e ao poder da água na cura dos males.
      Durante o século XVIII, os Apulienses sentem necessidade em aumentar as suas devoções e por volta de 1785 fundam, também no mesmo lugar de Criaz, o “santuário” de Nossa Senhora do Amparo, tendo esta sido benzida a 15 de Julho daquele ano.
      Esta Capela insere-se no chamado movimento Mariano que, segundo F. Neiva Soares fez com que nos séculos XVII e XVIII fossem construídas mais de seiscentas capelas desta devoção em Portugal.
      É curioso o facto de mais uma vez, nesta região, estarmos perante um antigo culto da água ou de fonte, locais onde os cristãos procuram edificar os seus templos, mantendo, em algumas situações, os velhos cultos pagãos.
      Sobre a sua fundação pouco se sabe já que a documentação é muito diminuta. Sabe-se, no entanto, que foi seu primeiro Capelão o Ver. José Correia Neves “que levou ou fundou o Corpo da Igreja, desde os alicerces, do mesmo santuário”. Este Capelão morreu a 27 de Janeiro de 1827, tendo 46 padres no seu Ofício e foi sepultado na Capela Mór deste mesmo Santuário do Amparo.
      Esta Capela recebeu grandes obras em 1808 e 1907.
      Possui um frontão de estilo neoclássico e a fachada ostenta um nicho onde está colocada a imagem de Nossa Senhora do Amparo, esculpida em granito. Na peanha possui a seguinte inscrição “Eu sou o Amparo dos Peccadores. 1808”. Ao centro desta fachada existe um janelão rectangular que ilumina o interior. Lateralmente sobre as pilastras, erguem-se dois florões tendo ao centro uma cruz trilobada. No remate existe uma segunda inscrição “Benfeitor, Luiz Joaquim de Carvalho. Contriz. 1907”. Do lado Sul, sobe uma torre sineira tendo a sacristia sido construída pelo lado nascente.

Capela da Senhora da Caridade


      O século XIX vai-se mostrar pródigo na edificação de novas Capelas em Apúlia, sendo uma delas a de Nossa Senhora da Caridade.
      Usualmente este culto anda ligado a lugares onde se prestava o auxilio quer a doentes quer a mendigos e caminheiros. Não sabemos ao certo, qual terá sido o pensamento do seu instituidor, quando a edifica em 1881. O que é certo é que mesmo enfrente a ela, num pequeno nicho, foi colocado o chapéu e a vieira, símbolos dos peregrinos de Santiago. O que denota que por aqui passaria um percurso, embora secundário, dos Caminhos de Santiago.
      Situa-se na esquina da Travessa da Igreja com a Rua da Igreja. Possui uma fachada simples voltada a Norte- A data da sua fundação está inserida num pequeno frontão encimado à porta principal a qual está ladeada por duas janelas gradeadas, abertas a um nível mais baixo. Esta localização das janelas possibilitava a que os devotos, mesmo estando fechada, pudessem ter contacto visual com o interior e com o seu orago. A completar a decoração da fachada existe uma janela central, rectangular, e remata com um frontão contra-curvado com quatro pequenos coruchéus. Na parte central existe uma cruz, em granito, com braços trilobados.
      Esta capela foi legada pela família de André Igreja à Paroquia e encontra-se devidamente restaurada.

Capela da Senhora de Lurdes


      Localiza-se no Lugar de Areia e data do século XX. Apresenta uma arquitectura muito incaracterística e bastante simples.
      É particular pertencendo à família Gonçalves do Paço. Trata-se de uma construção voltada para sul, simples, tendo sido revestida a cimento, embora com os remates a granito. A iluminação interior é assegurada por uma janela voltada a Oeste assim como por um óculo circular, situado no lado esquerdo da entrada que permite uma visualização do seu interior. Sobre a fachada existe uma cruz trilobada.
      Segundo informações colhidas no local, foi mandada edificar pelo P.e Neto, um grande pregador, natural de Apúlia. Curiosamente não encontramos qualquer registo deste sacerdote nos documentos que estudamos sobre Padres naturais de Apúlia. Consta que pertencia à família da “Netas”. Foi uma capela para uso familiar e é seu actual proprietário, o Sr. António Conceição, que a adquiriu pelos anos 40.

Cruzeiro da Agra dos Mouros


     
Segundo a tradição na Agra dos Mouros, onde se localiza este cruzeiro, teria assento a Primitiva Igreja de Apúlia, a então “Villa Parietes”. Este cruzeiro foi restaurado em 1 de Outubro de 1981, estando protegido por uma cercadura em tubagem, assente em marcos de fibrocimento. Este cruzeiro está encaixado num plinto prismático incrustado numa base de lajes graníticas. O fuste, circular e liso, está encimado por um capitel trapezoidal de faces simples. Sobre ele há uma cruz de braços lisos. Mesmo por baixo deste capitel existe uma gárgula em ferro, com quatro braços, que se destinava a suspender lamparinas.
      Nota-se, claramente, que houve introdução de elementos em épocas recentes que, de certa forma, o descaracterizam

Capela da Senhora da Guia


      Datada do século XIX a construção da primeira Capela dedicada a Nossa Senhora da Guia. Foi mandada edificar por Manuel Inácio de Sousa, que a doou antes de 1936, à família Lopes dos Santos, naturais de Barqueiros, Barcelos. Julgo que estamos a falar da mesma Capela que vulgarmente era conhecida pela Capela do Tibúrcio. A devoção à Senhora da Guia é grande na zona litoral, nomeadamente das pessoas ligadas ao mar. Como nota, refiro que a Nossa Senhora da Guia é Padroeira dos Barqueiros do Rio Douro. A primitiva Capela foi destruída mas a devoção já era forte o que levou a que os Apulienses, no mesmo lugar de Areia, e no ano 1977, mandassem edificar um novo monumento em sua honra.

Capela da Senhora da Boa Viagem


      Trata-se de uma Capela particular.
      Situa-se na Rua da Senhora da Boa Viagem, e faz parte integrante da actual casa do Sr. Adriano Almeida que a adquiriu, em 1940, a D. Maria Adelaide, natural de Carvalhal, Barcelos.
      Por volta de 1880, António Ferraz Gouveia Lobo, de Barcelinhos, falecido em 1899, mandou-a construir, dedicando-a a Nossa Senhora da Boa Viagem. Refira-se que se trata de uma devoção tradicional das gentes do mar.
      Segundo informações, nesta casa passava constantemente férias um sacerdote que aí celebrava. Era muito frequentada pelas gentes do lugar.
      Possui um frontão triangular neo-barroco e é de arquitectura simples. De planta rectangular, tem a fachada principal voltada para Este. A porta assente sobre um frontão triangular. Sobre as pilastras laterais erguem-se dois pináculos decorativos. Pela parte Norte existe uma pequena janela que dava luz para o, então, Altar-Mór.
      Presentemente julgamos estar desactivada do culto, servindo de celeiro e arrumos.

Capela de S. Bento


      Esta Capela terá sido fundada, segundo alguns autores, em 1635, segundo outros em 1655. Sabe-se, no entanto que em 13 de Maio de 1656, 20 casais do Lugar de Criaz, de entre eles Domingos Manuel Velho e Domingos Manuel Novo, levantaram uma Capela “... no seu monte maninho, estando acabada com chaves e o mais necessário”. De seguida apresentaram-se perante o notário para assinar um documento segundo o qual se comprometiam a dar para esta Capela, a primeira a existir no aro da freguesia, “... a imagem do milagroso Senhor S. Bento e certas quantias de cereal para a sua fábrica de modo a haver nela Missa e Pregações”.
      Curiosamente, e estudando os registos paroquiais de Apúlia, no Livro Misto N.º 1, em 1640, encontramos um interessante registo do Reitor de Apúlia, com o título “esmolas que se prometeram para a festa de S. Bento” o que vem dar razão aqueles que apresentam como data de fundação aí por 1635. Nessa listagem, só com nomes de moradores de Criaz, registam-se alguns dados sobre profissões que nos merece um pequeno apontamento. Assim encontramos neste Lugar de Criaz as profissões de Juiz, Capitão, Moleiro, Procurador, Jurado, Curador, Cesteiro, Canastreiro, etc..
      Em 26 de Maio de 1728 foi mandado fundir o sino para a Capela “... por ser preciso por causa da Missa e de acompanhar o viático dos doentes”. Em 7 de Setembro de 1742, numa visitação, foi escrito que esta não tinha paramento e os moradores deveriam cortar o mato que a envolvia e preenchia o seu adro. Aliás numa outra visitação, esta a 18 de Fevereiro de 1760, registava-se que a Capela estava a ameaçar ruína.
      Em 1772, é autorizado, por Provisão do Arcebispo de Braga, a que o P.e Manuel José de Azevedo, natural de Fonte Boa e Capelão de Nossa Senhora do Amparo, pudesse instituir nesta Capela um Confessionário “... para nele se confessarem todos os fieis que forem à mesma”. O nascimento religioso nesta capela é notório nos registos de óbitos, em que os moradores faziam questão em serem sepultados no chão da Capela (ex. Manuel António Miranda, sepultado aí em 08 de Junho de 1933).
      Este pequeno templo foi totalmente remodelado em 1928.
      Segundo Teotónio da Fonseca, isto em 1936, esta Capela era particular e pertencia ao P.e Adelino Ferreira da Costa, que era Capelão da Senhora do Amparo. Tê-la-á comprado em 1919. Actualmente pertence à Paróquia e foi completamente renovada.
      Possui uma fachada com frontão triangular onde se pode ler a legenda “S. E.    M. J. – 1928”. Ao centro há uma janela rectangular que ilumina o interior. Possui um pequeno arco sineiro, aposto ao alçado norte. Sobre a fachada principal existe uma cruz e dos lados, sobre as pilastras surgem dois pináculos. O Templo possui ainda duas pequenas capelas laterais e uma sacristia, esta na fachada posterior. Está circundada por adro próprio. Possuía um cruzeiro que foi mudado, em 1906, devido a uma demanda entre a Junta de Freguesia e os moradores de Criaz. Em 1907 a Junta de Paróquia de Apúlia voltou a entrar em litígio, por causa desta capela, desta vez com Manuel de Sá Hipólito, tendo para isso contraído um empréstimo de 500$00 reis.
      Esta foi uma das Capelas que d. Rodrigo de Moura Telles, Arcebispo de Braga, visitou em 1719 assim como o seu sucessor D. Gaspar de Bragança em 1777 e 1780, Estas visitas denotam, sem dúvida, a sua importância na vida religiosa Apuliense.
      Em 1845 anotava-se que esta Capela estava “... segura, tinha os paramentos necessário, e os moradores eram quem a administrava”.
      Estamos certos que a devoção das gentes de Criaz a S. Bento de insere na grande dinâmica devocional que este fundador da Ordem dos Beneditinos ganha por toda a região e, curiosamente, um dos seus atributos é precisamente a peneira, símbolo do trabalho agrícola na busca do pão. Não esqueçamos da forte tradição agrícola de Criaz. Também dentro deste templozinho se veneram outras devoções que são S.ta Escolástica, cujo altar foi mandado executar em 1870 por Joaquim Vilas Boas Ribeiro Vellozo de Miranda, da casa brasonada de Criaz, que na altura custeou as obras de restauro e o próprio muro do adro, oferecendo a respectiva Imagem. O altar de S.ta Quitéria mandado fazer pelo pai de Manuel António Hipólito.
      Santa Escolástica é, como sabem, irmã de S. Bento e foi fundadora da Ordem da Beneditinas, pelo que, mais uma vez, os moradores de Criaz, quiseram honrar S. Bento, dedicando um Altar à sua irmã. Quanto a Santa Quitéria, é símbolo da gente casta e dedicada a Cristo que, mesmo em horas difíceis não abdicam de O louvar e adorar.
      Curiosamente em 1758, nesta Capela em vez da devoção a Santa Escolástica havia uma forte devoção a S. José fazendo-se uma grande romagem, muito concorrida pelas freguesias vizinhas.
      No se aro encontra-se uma pedra tumular, em granito, datável do século XVIII, vinda do interior da Capela aquando da última remodelação. Tem um brasão de armas da família Carneiro. Pese embora o campo epigráfico esteja completamente apagado, este brasão é perfeitamente identificável e é constituído por escudo, Elmo com paquife e Timbre. O Escudo é de composição plena, sendo a sua leitura – CARNEIRO, sendo, constituído por uma banda perfilada, carregada de três flores-de-lis e acompanhada de dois carneiros passantes. O Timbre é formado por um carneiro passante.
      Registe-se que na Capela de Nossa Senhora da Lapa, em Fão, existe, no seu interior, uma sepultura rasa, com o brasão de família, em que figuram as armas dos  Carneiros. Não encontramos , no entanto, a ligação entre uma e outra Capela.

Capela da Senhora da Fonte


      Este nicho/capela foi reconstruído em 1955 em virtude da capelinha anterior estar muito arruinada. É particular sendo a actual proprietária D. Maria de Jesus Lopes Ferreira. Foi o seu pai quem procedeu ao último restauro.
      A este templozinho anda associada, embora com duas versões, uma interessante lenda. Conta-se que o lavrador de Apúlia, João António de Sá, terá ido à feira de Vila do Conde, vender uma junta de bois, e aí comprara a Maria Teresa de Aguiar uma Santa Imagem de Nossa Senhora (ver abordagem deste assunto no capítulo dedicado à Senhora do Amparo). De regresso a casa, e cansado da viagem e cheio de sede, olhando a imagem que carregava, deitou-se nas dunas para retemperar forças. Como a sede era cada vez maior, pediu encarecidamente à devota imagem, que lhe desse uma fonte onde se pudesse saciar. Entretanto adormecera e ao acordar, qual não foi o seu espanto quando viu que aos pés da Senhora brotava água límpida e cristalina. Chegando a casa correu a dizer à mãe, que era muito surda, para que esta de apegasse àquela Senhora pois era de muitos milagres. De madrugada a velhinha ouviu cantar o galo. Em sinal de agradecimento mandaram construir uma capelinha no local onde brotou água e aí foi colocada a imagem passando a chamar-se Sr.ª do Amparo. Segundo a tradição, num dia de grande mareada, os moradores de Criaz, ao passarem para a apanha de sargaço, levaram consigo a devota imagem e erigiram-lhe um pequeno nicho. No dia seguinte esta tinha desaparecido e voltado ao primitivo local.
      Versão diferente contam os moradores de Criaz. Dizem eles que foi o próprio João António de Sá quem terá levado a imagem para aquele lugar e que os da Areia a roubaram de noite e a foram colocar, de novo, na sua primeira capela. Porém, terá sido Nossa Senhora quem não gostou do local e foi parar ao nicho que os de Criaz lhe tinham construído. Dobre este assunto ficou no cancioneiro Apuliense a seguinte quadra:

  “A senhora do Amparo
Fez um milagre capaz
       Fugiu aos judeus d’Apúlia
             E veio p’ros Santos de Criaz”.

Capela das Freiras


      Trata-se de uma capela particular integrada na antiga Casa Sá Carneiro, actual Colónia Balnear Infantil. Há alguns anos esta capelinha, com acesso à rua, tinha as sua Missas dominicais mas, neste momento, está desactivada e sem qualquer ligação ao exterior.
      Através de um interessante desenho, feito em 1880, e cujo autor é Arm. Pedroso, do actual Largo da senhora da Guia, vemos que aí já figura esta capelinha.


Nichos e Alminhas


      É evidente que a devoção de um povo não se vê somente pelas grandes obras, ou pela sumptuosidade dos seus monumentos. Percorrendo as ruas de Apúlia facilmente nos apercebemos de que a devoção às Almas do Purgatório foi sempre muito grande.
      Rara é a entrada de uma freguesia ou uma encruzilhada de caminhos que não surja aos nossos olhos um nicho dedicado às Almas do Purgatório. Dos mais toscos aos mais elaborados e de rico recorte artístico, todos nos fornecem interessantes informações. Em Apúlia, para além das Almas do Purgatório e de Cristo Crucificado, aparecem-nos dedicados a S. Miguel, a Nossa Senhora do Amparo e a Santo António. Aliás, somente a partir do século XVI é que o culto às Almas do Purgatório começa a ser implementado, como reacção dos cristãos à Reforma Protestante. Estes reformistas criticavam a Igreja por aceitar “a crença no fogo purificador do Purgatório”.
      Segundo o etnólogo José Leite de Vasconcelos esta tradição dos nichos é quase que uma reminiscência, senão mesmo uma continuidade, das Aras romanas dedicadas aos “Lares Viales”. Se agora é costume legendarem-se os painéis com “Ó vós que ides passando, lembrai-vos de nós que estamos penando”, também os romanos escreviam nessas aras dos caminhos “Peço-te viajante que digas: a terra te seja leve”.
      São várias as Alminhas que foram levantadas à beira dos antigos caminhos Apulienses, como é o caso das Alminhas do André, do nicho de S. Miguel em Paredes, das Alminhas de Criaz, das do Barros, no mesmo lugar ou, ainda das Alminhas do Carvalho. Aliás, em Apúlia, existe um dos mais antigos nichos da região, com data de 1666, hoje depositado no interior da casa do Sr. José Carvalho.


Alminhas do André ou do Igreja


      As Alminhas do André ou do Igreja encontram-se adoçadas a uma casa de habitação, mesmo em frente à Capela de Nossa Senhora da Caridade.
      Construídas com molduras de granito, possuem uma peanha mais saliente. O nicho é rectangular rematando em arco redondo. A encimá-lo vemos, também em granito, a representação simbólica dos peregrinos de Santiago de Compostela, nomeadamente o chapéu e a vieira o que vem provar que estamos perante um caminho, embora secundário, de peregrinação. Sobre este caminho Apuliense fala-nos o Autor do Livro “Pelos Caminhos de Santiago”. Segundo informações da sua zeladora D. Maria Albertina dos Santos Tarrio, estas foram construídas muito antes da própria Capela de N.ª Sr.ª da Caridade. Foram restauradas em 1998 embora o painel tenha sido repintado aí pelos anos 70. Está protegido por um gradeamento de ferro. É de madeira, pintado de azul celeste, destacando-se uma bela imagem de cristo, ladeada por anjos. Em relevo, e na base do retábulo, destacam-se as Almas do Purgatório, envolvidas por labaredas, estas esculpidas em gesso. Curiosamente entre as Almas do Purgatório podemos identificar um Bispo e um Rei.

Alminhas de Criaz


      Situam-se no entroncamento que conduz a Barqueiros, mesmo em frente à Estação Rádio Naval de Apúlia. Está embutido no muro de uma propriedade e terá sido mandado construir aí em 1900, por Rosalina Coelho. Possui uma forma rectangular e o retábulo está protegido por um gradeamento. Estas alminhas estão cobertas a cimento e são rematadas por uma cruz do mesmo material. O retábulo é em madeira estando a pintura um pouco danificada devido às velas acesas que aí são colocadas. Iconograficamente são representadas por Cristo Crucificado, possuindo na parte inferior vestígios das Almas do Purgatório.

Alminhas do Carvalho


      Estas Alminhas situam-se na Rua do Cruzeiro. Foram mandadas construir, aí pelo anos 60, pelo Sr. J. Carvalho. Estão embutidas na parede de uma casa de habitação. São muito simples, em cimento e o retábulo é protegido por um gradeamento em ferro.
      A encimar este nicho, e bem separado dele, foi colocada uma cruz em ferro. O retábulo é de azulejo policromo onde figuram Cristo Crucificado, ladeado por S. António e N.ª Sr.ª do Carmo. Na parte inferior do mesmo estão as Almas do Purgatório.
      Curiosamente deste local foi retirado outro nicho, conhecido pelas Alminhas das Cestas. São feitas em granito e são, talvez, uma das Alminhas mais antigas da região. Estão datadas de 1666 e encontram-se, actualmente, no jardim da casa de J. Carvalho.
      Num estudo realizado às 278 alminhas do Concelho de Barcelos, não foram encontrados nichos anteriores a 1700.

Alminhas da Boza


      Situam-se no Lugar da Igreja, mesmo no início do lugar de Paredes.
      Pertenciam à família de Manuel Fernandes do padre e foram mandadas construir para cumprimento de uma promessa. São anteriores a meados do século XVIII pois a casa que lhe fica vizinha data de 1779 e, pelos vistos, as alminhas já existiriam.
      São formadas por um nicho em forma de pequena Capela. No seu interior vislumbram-se vestígios de um pintura mural, talvez do primitivo painel.
      Há mais de 50 anos, era tradição realiza-se uma festa, à sua volta, onde era queimada a “vaca de fogo”.
      Estão completamente deitadas ao abandono, o que é de lamentar dada a sua riqueza arquitectónica, e quiça o seu valor etnográfico.

Alminhas de S. Miguel – Paredes


      Situam-se na margem da Estrada Nacional 13 e, segundo informações, marcaram o limite Norte da Freguesia. Este nicho foi mandado construir, pelos anos 60, por Norberto Alves Torres, em memória da sua filha mais velha que, nesse local, morreu, vítima de acidente de viação. É construído em granito e cimento, e está assente num plinto que contem a inscrição “26 de Agosto de 1960”. É formado por um arco redondo, com três voltas, rematado por uma cruz. O retábulo é em azulejo e iconograficamente representa S. Miguel calcando aos pés o demónio. Possui uma legenda que diz “S. Miguel de Apúlia”.
      S. Miguel é representado com as vestes falares que segundo a tradição tinha como missão conduzir as almas ao Paraíso e pesar-lhes os pecados, no dia do julgamento.


Alminhas do Barros

  
 Localizam-se na Rua N.ª Sr.ª do Amparo e estão embutidas na parede de uma habitação.
Foram mandadas construir à cerca de cem anos, pelo bisavô de D, Otília Fernandes Castro Barros. São em granito e possuem uma peanha mais saliente. O retábulo está protegido por um gradeamento em ferro. Este é em madeira e nele estão representadas as figuras de Cristo Crucificado, Nossa Senhora do Amparo e S. Miguel. Na base figuram as respectivas Almas do Purgatório.


Alminhas do Padrão

  Situam-se na Rua do Padrão, junto ao antigo Pelourinho (Padrão) e Casa da Câmara do Couto, e pertencem a D. Beatriz (Mouro). Pela sua arquitectura são datáveis do século XIX. São construídas em granito, com peanha saliente e encimadas por um arco de volta perfeita. O retábulo está protegido por um gradeamento em ferro. O painel, em madeira polícroma, tem como elementos iconográficos a cruz com Cristo Crucificado, ladeada por S. António e Nossa Senhora. Na base aparecem as Almas do Purgatório envolvidas em labaredas.


Fonte: Livro "Apúlia na História e na Tradição, de Manuel Albino Penteado Neiva (Dr.)


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